Até a sua fundação, a Casa de Cláudia teve um caminho longo e árduo que só conseguiu atravessar, graças à força de seus Orixás e à dedicação e perseverança de seus médiuns. Destacamos aqui o importante papel de Valério Villa Boas e do Sr. Manoel Gonçalves Pereira – o Seu Manduquinha, que no Centro Espírita Pai José de Aruanda, conduziram Luiz de Mattos, médium fundador de nossa casa, a dar seus primeiros passos no trabalho mediúnico.
Mais tarde, dessa vez pelas mãos de Valério Villas Boas Filho, nosso saudoso Camboninho, Luiz de Mattos deu prosseguimento ao seu desenvolvimento espiritual em outro centro, sediado em Nilópolis. Foi quando pela primeira vez Seu Pena Azul, caboclo fundador da Casa de Cláudia, se manifestou.
Com a missão de fundar a sua própria casa e contribuir para a elevação da Umbanda, Pena Azul e Luiz de Mattos deixaram o centro de Nilópolis, já acompanhados pelo espírito do Caboclo Roxo. Foi nesse momento que outra saudosa irmã, cruzou o caminho de Luiz e se tornou um dos pilares na fundação da Casa de Cláudia. Era a Sra. Maria Luiza Babo de Mendonça.
Como era preciso um local para continuar o trabalho de Pena Azul, Maria Luiza ofereceu sua própria casa, em Nova Iguaçu, para este fim. E assim, em meados de 1963, no quarto do filho de Maria Luiza, começou o Grupo Experimental Renovador Irmã Scheilla.
O Grupo contava com as presenças dos espíritos de Irmã Cláudia, Irmã Scheilla e Dr. Eugênio Lucena.
Em julho de l965, o Grupo mudou-se para uma sede provisória na casa de Dona Zazá, irmã de Maria Luiza, em Nova Iguaçu. Nos fundos da casa foram construídos dois cômodos, um para os trabalhos de passe do Grupo Experimental Renovador Irmã Scheilla e outro para as sessões de Umbanda.
Após algum tempo, em frente à casa de Dona Zazá, começou a ser construída a sede própria da casa, denominando-se até os dias atuais de Centro Espírita Irmã Cláudia (CEIC).
O nome dado ao Centro foi uma homenagem à Irmã Cláudia, um espírito que em outras encarnações foi amigo de Pena Azul.
No CEIC as sessões de Umbanda eram regularmente dirigidas por Pena Azul. E sempre que necessário, ele atendia em um cômodo separado, chamado até hoje, carinhosamente, de “Bandinha de Pena Azul”.
Passado certo tempo, Pena Azul prosseguindo em sua missão, viu a necessidade de implantar algumas mudanças, abolindo algumas práticas muito comuns na Umbanda. Essas mudanças causaram estranheza na época, o que fez com que Luiz de Mattos se afastasse do CEIC, sem nunca perder o carinho e o respeito por essa casa.
Acompanhado por um grupo de doze pessoas, Luiz de Mattos e Pena Azul deram prosseguimento ao trabalho espiritual na sede do Grupo Espírita Barão de Cotegipe, cujo espaço foi gentilmente cedido pelo seu presidente, Sr. Renato.
Podemos dizer que a partir deste momento começa a história da Casa de Cláudia – a Morada da Fé. Segundo registro em ata, em 06/10/1971 no município de Nova Iguaçu, foi realizada uma sessão espírita com o propósito de se promover a união de pessoas de boa vontade desejosas de se dedicarem à prática da caridade, seguindo os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Nesta reunião fez-se presente o espírito de Padre Germano que falando em nome da espiritualidade, deixou emocionante mensagem de fé e amor. Através de outro médium fez-se presente também o espírito Irmã Cláudia, até hoje nossa patrona, pronunciando palavras de fé e de confiança na permanente união dos irmãos da Terra. E por fim, Pena Azul, ressaltando a necessidade de cultuarmos, sobretudo, o perdão, declarou fundada a Casa de Cláudia – A Morada da Fé.
Após algum tempo, o próprio Caboclo Pena Azul, entendendo que a Casa de Cláudia estava praticando Umbanda dentro de um Grupo Espírita Kardecista (embora o espaço houvesse sido gentilmente cedido), pediu que fosse procurado outro local, evitando assim qualquer constrangimento para os frequentadores daquele centro.
A Casa de Cláudia passou então a ocupar, sem a menor comodidade, duas salas de um prédio em construção, lá permanecendo por cerca de um mês e meio. Em seguida, irmão Alberto, outro grande colaborador da nossa casa, conseguiu um sobrado em Belford Roxo, bem amplo e com acomodações para todos os departamentos da casa, além de um salão bem espaçoso para realização das sessões.
Após algum tempo, não desejando o proprietário renovar contrato, a Casa de Cláudia teve que ser novamente transferida. E graças a nossa querida irmã Myriam, outro grande destaque na história de nossa casa, os trabalhos não cessaram. A Casa de Cláudia foi transferida provisoriamente para o seu apartamento, no bairro de Coelho da Rocha.
Em 1975, foi nomeada uma comissão de obras para a construção da futura sede própria da Casa de Cláudia, tendo como membros, Sr. Waldinar Marques Castanheira, na qualidade de presidente, Sr. Valério Vilas Boas Filho, o Camboninho, como tesoureiro e Sr. Carlos Orivaldo que nos almoços para arrecadação de fundos era o encarregado da cantina. Foram realizadas campanhas do tijolo, festival de tortas, almoços beneficentes entre outros eventos. Tudo com o objetivo de se construir aquela que seria até hoje a sede da nossa casa.
Ainda em 1975, o Sr. Waldinar, nos fez a doação de um terreno através de escritura do lote l8 da rua Judith (atual rua Estudante Eliane Castanheira) em São João de Meriti. A diretoria da casa, no entanto, chegou à conclusão de que por ser o terreno muito acidentado, o próprio nivelamento seria muito oneroso. Por isso, o próprio Sr. Waldinar permutou o terreno, também através de escritura, pelo de lote l5 da quadra 6 da rua Maria Emília, onde afinal veio a ser construída a nossa sede própria e onde estamos até hoje. É mais do que necessário ressaltar as doações e o esforço do Sr.Waldinar, que foi o grande construtor de nossa sede, dedicando-se diariamente ao serviço, trabalhando muitas vezes como operário na obra.
Uma vez construída a sua sede, a Casa de Cláudia foi registrada no Conselho Nacional de Serviço Social do Ministério de Educação e Cultura e declarada de utilidade pública pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, pela Câmara Municipal de Nova Iguaçu e pela Câmara Municipal de São João de Meriti. A ocupação definitiva da sede foi promovida em uma reunião realizada no dia 30/07/1976 onde, além de outros, estavam presentes Valerinho, Hermes, Maria Vânia, Miryam, Giselda, Climério, Ivonete, Marilena, Nercília, Luiz de Mattos e nosso saudoso João Goulart.
Após a ocupação da sede própria, Pena Azul pode finalmente dar continuidade a sua missão. Pode falar e praticar a Umbanda como uma religião sem amarras materiais, que reconhece e rende homenagem aos seus Orixás, suas entidades, mas com um único objetivo, o engrandecimento do espírito através da caridade. Disciplinador ao extremo, ele combateu em seu centro todo e qualquer manifestação de vaidade. Para Pena Azul não fazia sentido que alguém que se dizia umbandista, que acreditava nos ensinamentos dos tão queridos Pretos-Velhos, pudesse brigar por cargos e/ou posições privilegiadas dentro ou fora das sessões. Para Pena Azul ser umbandista era acima de tudo ser humilde e ter uma vida de dedicação à religião, e não o contrário, desejar que a religião se dedicasse ao médium ou lhe rendesse qualquer tipo de homenagem ou status.
Desde esse tempo, os médiuns que entenderam a missão de Pena Azul e o seguiram foram brindados com mensagens e ensinamentos mais do que valiosos. Recebemos durante algum tempo as visitas de Pedro, o espírito de um jovem de 16 anos, que nos falava sobre espiritualidade e sobre o mau comportamento da humanidade, bem como a falta de religiosidade na Terra.
Trazendo tantas outras belas comunicações, tivemos as presenças do Caboclo Maringá, Emmanoel, Egou, Grego, como também de Tongo, espírito japonês que na maior escuridão desenhou os quadros de Pena Azul e Nhá Chica que hoje ornam nosso Gongá. Fomos honrados com as presenças constantes de Maringá, de Irmã Claudia, de Eugênio Lucena, de Irmã Scheilla e de Irmã Mônica.
Também tivemos a honra de receber a visita, por uma única vez, do espírito de Clementino, o espírito mais iluminado e evoluído que já esteve presente em nossa casa. Sua visita foi previamente anunciada e além dos médiuns, um grande número de convidados esteve presente e recebeu preciosa bênção.
E assim a Casa de Cláudia prosseguiu, sob a liderança de Pena Azul e dedicação de seu médium, Luiz de Mattos.
Até que em 30/03/1988, Luiz de Mattos desencarnou, deixando um imenso vazio em nossos corações. Mas, ao contrário do que muitos pensavam, o trabalho da Casa de Cláudia não acabaria ali. Pena Azul havia cumprido a sua missão: fundar a Casa de Cláudia e fazer dessa casa um ponto de luz, caridade e fraternidade na Terra, mas deixava a seu fiel companheiro, Caboclo Roxo, a incumbência de dirigir a casa e ao seu irmão de encarnação Caboclo Pena Dourada, a grande tarefa de dar continuidade a missão da Casa de Cláudia.
O papel de Nercília nesse período foi vital para nossa casa. Enquanto alguns achavam que a Casa de Cláudia não seria mais a mesma sem a presença de Luiz, nossa querida “Neguinha” (era assim que Pena Azul carinhosamente a chamava) foi incansável. Já com idade avançada e morando longe de São João, ela comparecia impreterivelmente a todas as sessões (ainda que isso significasse mais de duas horas de viagem de ônibus e algumas baldeações) e mantinha viva a lembrança dos ensinamentos e da disciplina de Pena Azul.
Myriam passou a ter dedicação integral à Casa de Cláudia. Além de médium do Caboclo dirigente, ela era responsável por toda a Assistência Social da Casa de Cláudia. E fazia tudo isso, com a simplicidade e a humildade que Pena Azul pregava.
E como terceiro e vital pilar, a Casa de Cláudia passou a contar com a dedicação incansável de Marilena, que como médium de Pena Dourada, assumiu o papel de Luiz, como orientadora e mãe de todo corpo mediúnico.
Após o afastamento de Myriam por conta de condições físicas, nossa casa passou a ser dirigida pelo Caboclo Cachoeirinha, através de nossa irmã Vânia Hydalgo, que com muita coragem aceitou essa difícil, mas certamente enriquecedora missão.
Alguns anos depois, por motivos de saúde, nossa irmã Vânia também precisou afastar-se, permanecendo inabalável amiga e colaboradora da Casa de Cláudia.
Hoje a direção de nossa Casa encontrasse nas boas mãos do Caboclo Ubiratã e sua médium Maria Cristina, que cumprem essa missão com humildade e comprometimento.
A continuidade da missão de Pena Azul e Luiz de Mattos segue viva e radiante sob a liderança de Vovó Maria Conga, dona do nosso gongá e do Caboclo Pena Dourada. Junto com sua médium Marilena, esses espíritos se mostram incansáveis na luta pela prática de uma Umbanda de fé, amor e humildade. É através dos ensinamentos, da liderança, do amor incondicional e da dedicação desses espíritos que seguimos. Errando, acertando, mas sempre renovando o amor à Umbanda em nossos corações.
Assim é a Casa de Cláudia. Uma casa umbandista que sem nenhuma intenção de fazer qualquer tipo de julgamento ou de codificar a religião, pratica a sua Umbanda, sem bebidas, sem fumos, sem cobranças de pagamento, sem sacralização de animais, sem hierarquias. Uma casa que acredita e foca em trabalhos sociais e na propagação da fé. Assim ela foi planejada no espaço, assim ela foi nomeada e assim ela prossegue: Casa de Cláudia. A Morada da Fé.